segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Tudo significa nada

            Eu sorrio e com os olhos cheios d’água digo: “Tudo significa nada.”, não há mais nada a dizer. Apenas contemplar a grande beleza que é o acaso encontro de nós. Somos o big bang do novo século, não precisamos de conversa nenhuma, nossos olhos já entregam a história por trás de todo tecido, estamos lá e mesmo distantes sabemos o que cada um viveu e a vida segue, sorrio novamente e penso: “bom encontro, é uma pena não ser em outra época, talvez uns dois ou três anos atrás, quando ainda havia significados em nossas calçadas.”. Não há dialogo entre certeza e destino, não há espaço entre a incerteza e o egoísmo. Diga o que quiser, tudo significa nada, há conclusões precipitadas rolando por nossos cômodos.
            Há uma pausa entre o pensamento do poeta que deve escrever o nome de sua amada, mas consequentemente a tinta falha manchando as mãos daquele pobre jovem que ali esta, sentado diante daquele que seria seu melhor trabalho. Os rabiscos tomam conta de sua mão e já não sabe se pertence a tinta ou se a tinta o compõe, são um só em um risco tênue que corre pelo chão de seu mundo, seu território cercado pelos camelos e curvas de um corpo feminino.
            Tudo significa nada. Demorei muito tempo para entender isto, mas algumas coisas funcionam assim. Não importa, ela saiu, esqueceu de dizer onde ia e ligou para você mais tarde, não significa nada. Tudo que pensamos ser alguma coisa indevida é devidamente nada daquilo que pensamos ser. A vida brota nos sentidos confusos, não há manual para isso e se houvesse, convenhamos não mudaria nada, até por que, quem liga pra manual.
            Tudo significa nada. Toalha em cima da cama, colher de pau, perfume no carro, um novo amigo, jogo de futebol, aquela etiqueta por dentro da roupa, o filete que sai do seu telefone, o gesto do padeiro, o policial em frente a sua casa, a comunhão de bens, a gravidez da menina namorada do menino de família rica, o menino na porta do supermercado, a mulher que cochicha, o homem que pisca, aquela senhora escondendo doce na bolsa. A malicia está nos olhos de quem quer ver aquilo que é ambíguo, aquilo que é visivelmente invisível. A física comprova!

            Ai você pergunta com o rosto borrado de verdade autoritária e contraditória, mas e o nada? O nada é o oposto, de tudo, é a razão pelo aborrecimento, pelo desconforto da menina, por todas as frases não ditas, por aquele pedido de "fica". O não dito, fantasma da gramática, o futuro do pretérito do não participo mais, me calo e deixo a vida passar por entre os dedos, diluo a verdade em doses milimetricamente calculadas para que não haja revolta. O conforto das coisas mudas. Alguns médicos recomendam: "Não calar o coração. Doses diárias de sol e solidariedade ao espelho.". O risco de implosão é maior do que em casos de amor-acabado e salvam-se poucos, há muita gente ai implodida, há muitos escombros pela cidade, nem o Papa nem o papa-entulho dão conta. É muita oração pra pouco sujeito.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Samara



"Ainda escrevo, mesmo que com sede;
Ainda choro, mesmo que deserto. Recolho e enxergo, mesmo que incompleto;
Rezo, mesmo sem unir as mãos. Ainda espero, mesmo sem razão.
Áspero, inspiro castelos."

Riscou o papel com a tinta dos olhos de Samara, não sabia ler nem crescer, és a pena que segura às mãos. Tem pena de mim, exclama, mas cabe em sua pequena mão e escorre pelos anéis de ouro. 
Samara, corações em pedaços. São aqueles meninos que fazem sinais nas ruas, são jornaleiros e aquele poeta sentado na janela, são os maus pensamentos e os amadores de poesia. O café esfria entre os poucos pensamentos, respira o cheiro amadeirado das manhãs em sua casa, respira e desenha em sua água o futuro daqueles que ainda não sabem.
Guarda em ti o segredo dos capricornianos, são dos signos de seu tornozelo que cria poesia, constelação de pintas e mais pintas espalhadas pelo corpo, será de qual estrela?  Já ultrapassamos a estratosfera de seus olhos, não há mais volta a partir daqui, agora sabemos por que a dificuldade de chorar, e não deve, pois o sorriso é de um brilhante que nem as moças conseguem imitar, será sereia desse mar ou pura imaginação, já não sei. 

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Segunda-Feira




                Saio de casa sem calçar os sapatos;
                Devoro os livros e demoro o café, apelo para os salgados romances europeus, esqueço-me de ti e bocejo os versos de ontem.
                Apresso a vontade de ser só. Aprecio os dias de chuva e a calçada molhada.
                Parto do pressuposto de que as horas são marcadas pelo seu deslocamento. Não tenho carro. Sinto vontade, saudade e a idade.
Inquietude, dias e dias sem luz em nossa varanda.
Vende-se a casa ao lado, vem de ontem a vontade de sair daqui.
                Saio de casa e recolho as plantas no varal.

domingo, 30 de junho de 2013

La Complicidad.


            Oh, menina desfaz essa trança que agora quem respira sua voz sou eu, desfaz essa mesa que agora a vitrola toca. Desfaz a valsa e devolve o botão de minha camisa. Devolve também o ar de meus pensamentos, constrói em mim sua morada e faz nela o infinito coração.

            Não sabe a grandiosidade que é estar a frente de seus olhos, ninguém imagina a delicadeza de seus dedos, mal sabem os tolos aprendizes de poesia o que faz quando seu lábio seca, mal sabem eles o que colocar na próxima frase. Poetas, ainda se dizem donos dos livros da sua estante, não ouse tocar aquele livro, diz em voz alta, mas sorri, sorri feito uma deusa. Um sonho, aqueles que esquecemos quando acorda e deixa a saudade na porta de seu quarto.


            Deixa também o perfume nas golas da camisa, nas mangas e nos pés de laranjeira. Deixa pra lá e vem, senta aqui nesta cadeira e ouve o verso que fiz sobre você, ouve também o rádio que diz que vai chover, corre lá fora e recolhe a roupa, recolhe também meus calçados, há muito tempo não os vejo, desde que começamos essa procura por nós mesmos. Nós, aqueles dois sorrindo por entre a chuva que molha seu cabelo, molha também as folhas deste texto, que já se perde por entre as linhas umedecias.

domingo, 9 de junho de 2013

Ametista.


Há um silencio que reside, procuramos com os olhos os diálogos entre os objetos lançados a mesa.
Há uma causa solta, pendurada na porta. Há dias a falta de ideias enfurece o rapaz sentado na varanda.
Há uma sinopse em sua pele, algo como um roteiro de cinema, algumas manchas do sol e um gosto de saudade.
O homem estampado de céu atira seus sapatos contra os incômodos de sua casa. Arremessado contra o espaço cinza de sua rua, procura saídas.
O homem estampado de céu tem seus sonhos azuis.
A fragilidade está presente no passado pensado, arrependido e articulado.
Há fragilidade em seus dedos. Costura a minha alma na sua, acostuma meus passos aos seus.

Deslizo-me entre os textos mais confusos e traço o teu passado nas linhas de sua mão, coloco-me a disposição, a exposição, a distorção daquilo que já foi, aquilo que já esta a falta de seus dias. Aperto a mão de quem apenas sorri e apelo para um meio fechar de olhos um semicírculo de segurança, teorias tais que revelam a opacidade do olhar humano.
(...)

sábado, 4 de maio de 2013

Retórica.




 
            Aos poetas e aos leitores de poesia ainda resta uma duvida: viver ou vive-la.

            Há muito tempo venho escrevendo este que é mais um dilema entre os românticos, minha pequena peço que não se assuste com tais palavras, mas vou dedilhar cada corda que aqui está. Enfim chegou outono, digo isso porque o verão me causa fortes dores de cabeça e o calor daqui é tão diferente das nossas tardes na serra. A política corroeu os textos nobres dos poetas da cidade, ainda há românticos inconsequentes em bares e casas noturnas, mas aqueles que vingam são poucos. Caminho todos os dias na parte da manhã. Estou fazendo o que me recomendou: Limpo bem os sapatos antes de entrar em casa, converso com aquela planta que me deu, escrevo poesia, tomo café, leio jornal, preparo os livros e escorrego os olhos nas linhas mais sedutoras.

            Alguns dias atrás lembrei que deixei sua foto na gaveta do bidê, por favor, não deixe-a por motivo algum amarelar de saudade de seus olhos. Retire-a de lá e compre um bom porta retrato. Quando voltar, colocarei na parede da sala, assim quando nos visitarem poderão ver a nova cor da parede. Há um ou dois versos embalados nas óperas que assistimos, guarde-os com cuidado, toda palavra tem uma espécie de saudade de seu criador, trate-a bem, leia em voz alta para que ela sinta o que é viver. Afinal o que estamos fazendo?

            A partir daqui a fala começa a ficar um pouco mais pausada, as falas são só para preencher os espaços vagos dos abraços não dados. Digo isso pela distancia que há entre a carta que escrevo e o leitor que agora limpa os lábios em sua blusa. Concreto ou não todo poema é firme, de parede bem pintada, de engenharia perfeita. Acuso você por todos os meus escritos, acuso a ti o amor que estampa os versos dos amantes, acuso a ti, sim a ti, pequena e doce mulher com seus vestidos floridos.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Seu nome é quase cor


Minha pequena seu nome é quase cor.
Já desconheço o sentido da vida nestes dois minutos.
Ah. Se o coração fosse um pouco menos impulsivo.
Assim como os pássaros e os passos que voam.
Por que quando nos acostumamos o tempo voa;
Voa com as mãos fechadas levando aquilo que se sente.
Aquele garoto estava certo, é muito fácil se perder nos olhos de uma mulher.
Ainda há de haver invisível nas coisas dizíveis e o indizível se tornará daqui por diante infinito.
            Alguns sintomas rabiscaram as folhas de meu caderno, não sei se começo pelos fatos do coração ou pelas relíquias de minhas lembranças.
            Há algo estampado em sua camisa e apenas algumas gotas em seu copo. A máquina para ao ouvir o som do poeta que reduz sua carta a um abotoar de camisa, um suspiro e o rasgar de uma correspondência.
            Se algumas palavras tocarem seu peito minha pequena, deixe com que caia uma manga de seu vestido. Seria maldade dos Deuses deixar com que seu belo ombro fique preso para sempre em volto a esses tecidos. Se alguma silaba for tocar o grão de seus brincos, deixe-a contar o mínimo segredo que existe por trás de todos os versos deste pobre escritor. Deixe-a envolver-te em algum poema malicioso, alguma canção com piano, alguma história de faroeste com mocinhas que choram por páginas em seus diários.
            E assim quando um sorriso brotar naturalmente em seu rosto e por ventura seu rosto ficar corado, saberei quais as melhores flores para combinar com seu vestido.